quinta-feira, 4 de junho de 2020

Sobre o anarquismo metodológico de Feyerabend (II)

Feyerabend nos adverte que toda a investigação científica é sempre precária, uma vez que, qualquer experimento científico consiste em uma forma simplificada e incompleta de procedimentos (e aferições) sujeitos, a princípio, a (constante) revisão. Podemos objetar dizendo que: qualquer tipo de experimento está, de fato, sujeito a revisões; mas, este caráter simplificador e parcial está, por sua vez, submetido às condições do estado atual da física experimental (e da tecnologia). Em outros termos, conforme o avanço tecnológico, bem como do aprimoramento dos métodos de mensuração, aumentamos a nossa capacidade de investigação e retificamos os erros cometidos anteriormente.
Feyerabend insiste, também, na presença de lacunas nas explicações científicas. Ora, sabemos que qualquer doutrina científica (ou não) é suscetível, eventualmente, de alguma falha. Não obstante, isto não significa que não seja possível, por meio de revisões devidamente conduzidas, eliminar tais 'lacunas' de uma dada teoria científica. 
Eu diria que, talvez, o principal mérito da 'crítica' de Feyerabend aos fundamentos das ciências esteja em chamar a atenção para o caráter falibilista da pesquisa científica. No entanto, do meu ponto de vista, Feyerabend eleva este caráter a uma posição extrema (ou absoluta). E, por conseguinte, sugere uma forma de relativismo e ceticismo no âmbito da Filosofia das Ciências.
Se concordarmos com o ponto de vista proposto por Feyerabend em rejeitar certos dogmatismos e conservadorismos que permeiam a atividade acadêmica, admitindo-se a necessidade da ampliação de novos horizontes na pesquisa científica, então este posicionamento filosófico pareceria ser razoável. Por outro lado, esta mesma perspectiva filosófica defendida por ele rejeita de modo radical a elaboração de critérios de consistência e decidibilidade entre teorias rivais sobre uma dada classe de fenômenos estudados.
Resumindo: Feyerabend rejeita qualquer base indutiva ou dedutiva de racionalidade para os fundamentos das ciências.

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